JEAN-PHILIP STRUCK
ENVIADO ESPECIAL A SALETE (SC)
ENVIADO ESPECIAL A SALETE (SC)
O rugido insistente de um leão se tornou comum em meio à paisagem de
araucárias do interior de Santa Catarina nas últimas semanas.
"É por causa da fome", diz a voluntária Sílvia Pompeu, enquanto joga um
pedaço de carne para o animal de aparência esquelética, que devora o
alimento em segundos. Macacos apáticos em jaulas imundas observam a
cena.
Eles e outras dezenas de bichos são os sobreviventes do zoológico do
Cattoni-Tur Hotel, no centro de Salete (a 260 km de Florianópolis).
Segundo o Ibama, o local foi praticamente abandonado pelo dono, Azodir
Cattoni, após o órgão interditá-lo, em dezembro. Desde então, os bichos
passaram a comer cada vez menos. Tigres que recebiam 14 kg de carne a
cada dois dias passaram a ter dois frangos.
A eletricidade foi cortada. E sem as cercas elétricas, uma onça já pulou
na jaula dos leões e foi morta. "Todo mundo corre risco de morte",
disse a analista ambiental do Ibama Gabriela Breda, que circula armada
pelo zoo.
Adriano Vizoni - 3.abr.12/Folhapress | ||
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Leão permanece no zoológico do Cattoni-Tur Hotel, no centro de Salete (SC), após interdição do Ibama |
Instalado num antigo seminário, o hotel-zoo foi aberto em 2007 e passou a
acumular legalmente enorme quantidade de bichos. Havia mais exemplares
de certas espécies do que no zoo paulistano.
"Vinham de apreensões ou foram abandonados por circos", disse Elenice
Franco, do Ibama. Segundo o órgão, os recintos são inadequados, e o
acúmulo se refletiu no índice de mortalidade, que alcançou 80%. O
aceitável seria até 20%.
Dos 1.100 animais que entraram lá, só 214 estavam vivos na interdição,
decidida após a fuga da elefante Carla, que saiu em disparada pelas ruas
e só foi capturada horas depois --hoje ela vive no Rio.
Multas aplicadas pelo Ibama somam R$ 50 mil. Agora, até o hotel está fechado.
O órgão e voluntários intervieram na semana passada. Dezenas de bichos
já foram levados a outros zoos, mas cerca de 40, entre macacos e
avestruzes, não têm para onde ir.
Voluntários do santuário Rancho dos Gnomos, de SP, foram até os felinos
--alguns até rezam para tranquilizá-los. "Esse vai precisar de muitas
preces", disse Sandra Calado na terça passada, ao observar um tigre de
bengala esquelético, que não resistiu.
Azodir Cattoni não foi localizado. O Ibama diz ter sido informado de que
ele está fora do país. Advogados que já o representaram não se
manifestaram. No hotel ainda atuam quatro pessoas, entre elas uma irmã e
um cunhado, que se recusaram a falar com a Folha.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1073847-famintos-animais-definham-em-zoologico-do-interior-de-sc.shtml
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